domingo, 21 de novembro de 2010

Entre feridas e cicatrizes.

Quando eu era pequena, sempre quis ter cicatrizes. Minhas amigas tinham porque elas eram mil vezes mais aventureiras que eu e, mesmo assim, por mais que eu machucasse meus joelhos mais constantemente do que é natural, eu não ficava com cicatrizes. Sempre achei legal essa coisa de quebrar a perna e deixar que os amigos assinassem o gesso, mas eu sempre fui uma criança quietinha demais pra que acontecesse qualquer coisa assim. O máximo que eu alcancei de um gesso ou uma cicatriz foi eu ter tentado pular do sofá pra o banquinho que nós tínhamos na sala de casa e machucado, como sempre, meu joelho.

Mas hoje eu tenho cicatrizes, e não são poucas. Não são na pele, nenhuma delas, porque eu cresci pouco aventureira, como eu já era antes. Mas são várias dentro de mim, de lutas. E eu acho que essas são mais legais que as cicatrizes que ficam na pele, porque as cicatrizes que ficam na pele, apenas ficam lá, na pele, e você se lembra de quando se machucou ao olhar pra elas. E as cicatrizes de dentro da gente talvez sejam como distintivos, que a gente olha e diz essa aí é de quando eu venci aquele gigante!.

Quando a gente cai e machuca - no meu constante caso - o joelho, dói na hora. E é um processo longo e irritante até que a ferida se feche e apareça apenas como cicatriz - no meu caso, não apareça. E a gente sabe que as lutas são assim também. A nossa dor, nossa ferida está aberta e nossos cuidados têm de ser redobrados pra não entrar sujeira nenhuma nas feridas, pra que a ferida não abra ainda mais pra que não doa ainda mais, pra não infeccionar e acabar virando uma ferida, um problema muito maior. Mas a ferida fecha, não fecha? Ela fecha depois do tempo que Deus quer, a luta acaba no tempo que Deus quer, e aí nós temos outra a marca. A marca de mais um gigante derrubado, ainda que por um tempo tenha doído.

Cicatrizes internas podem ser marcas de curas mais internas ainda. As nossas deformações são feridas e com elas nós tomamos os mesmos cuidados de não deixar entrar sujeiras, pra que não se tornem deformações ainda maiores. Nossos traumas, nossos medos, todos seguem o mesmo esquema das feridas e deformações. Todos passam pelo mesmo processo e algumas coisas, em algumas pessoas, são mais demoradas do que outras coisas, em outras pessoas, ou que as mesmas coisas. E outras coisas são mais demoradas que as anteriores, nas mesmas pessoas. Mas a certeza é que depois vai haver uma cicatriz ali e, pra essa, a gente vai poder olhar e dizer essa daí é de quando Deus me curou daquele medo!.


Cicatrizes internas, marcas de curas, são memoriais. Depois de tudo nós vamos ver, nós vamos ver que tem um monte delas, nós vamos nos lembrar de cada vitória, lembrar que não estávamos sozinhos. Olhar pra trás, ver que nós continuamos de pé, quando podíamos ter caído. Ficamos de pé e tomamos cuidado com nossas feridas, quando nós podíamos ter deixado pra trás, deixado sujar. Mas nos ficamos de pé, e essa é nossa marca. Memoriais diante do Senhor, que foi quem nos manteve de pé, quem nos curou, quem fechou nossas feridas depois do tempo que Ele quis, o tempo certo.

Depois de tudo, nós sabemos que tem muita coisa por trás de todo tempo em que doeu e sangrou. Que todo esse tempo foi pra que a nós aprendêssemos a nos cuidar, estando de pé. Foi pra que nós nos levantássemos e nos fortalecêssemos, segundo tudo aquilo que nós já sabemos. E nós já sabemos que quando aparecer uma nova ferida, uma nova luta, é assim que nós vamos vencê-la, estando de pé.

Nenhum comentário:

Postar um comentário